Feliz Tempo Novo




Observo, encostada na soleira da porta
Toda a vida apressada passar
Lá vejo pessoas, ouço vozes
Amigos, amores, lembranças
Todos passam e vão-se embora
É necessário ir!
O que se há de fazer?

Junto deles passam os anos
Inquietudes de adolescente
Dúvidas da juventude
Algodão doce, irresponsabilidade
Passam apressados sem saber

A sabedoria está em aceitar o fim
Talvez esta seja a mais árdua e pesada...
Mas depois do fim
Um novo começo, sempre!

Lá vem a brisa de um novo tempo
Despontando no horizonte
Já posso sentir seu frescor
Tocando meus cabelos

Junto a mim somente o AGORA
Abro os braços e deixo escapar
Livre como um pássaro, todo o passado, outrora

Vão-se sonhos abandonados,
Objetos quebrados, papéis rasgados
Nada mais é preciso ficar
Tudo passa e vai embora
O que se há de fazer?

Assisto a tudo e posso crer
O Tempo sabe muito mais do que todos nós
Para que desobedecer?

Nas Asas do Tempo




As asas do tempo
Às vezes, atrapalham
O meu próprio vôo...

O Amor somado ao tempo
Às vezes adoece,
E morre multiplicado.

O amor somado à distância;
Cristaliza-se em gotas de lembranças
Eternizadas nos poros da pele.

E da união do amor com o tempo
Nos dias tranquilos
Em dores de parto,
Nasce o filho chamado
Saber.

Feminina



Pela manhã

Desfaço as tranças do cabelo
Que os sonhos da noite teceram

De cara lavada,
Desperta de qualquer ilusão,
Percorro as ruas sinuosas do meu desejo
Seja lá, onde elas já percorreram,
E onde me conduzirão...
Trazendo a realidade da vida para junto de mim.

De pés descalços
Sinto a terra ainda úmida
Que me arranca os ares de menina
Solto das mãos, então, as esperanças cegas do ontem,
Para viver, enfim,
Dentro de cada poro da pele,
Um tempo redescoberto.

Doce


Ao meu filho Davi

A doce música vinda do seu quarto
Transporta-me para um tempo em que sonhei
Via nas nuvens tatuado
Um rosto como o seu, a me olhar

O suave perfume que vem do seu quarto
Toca profundamente em meus anseios
Movimento lento, silente
Intacto e emoldurado
Do eterno instante em que te vi

Amor e sonhos convergidos
Impasse que o destino leu
No calor que sempre emana
Do ventre que te protegeu.

Nas paredes brancas
Sou a protagonista
Do sonho que ontem ousei ter
Passado e presente transpassados
De mãos dadas, vida a fora
Escritos num filho que me faz crescer.

Pólen


Dentro da tarde
Este vento fresco traz
Um pólen que germina em meu rosto
Figuras tácidas de flores audazes

Se caio entre as horas do meu relógio
Contemplando o tempo se despindo
Vejo apenas dois confusos ponteiros
Indicando o teu certeiro caminho

Na música que aqui me encanta
Acordes que levitam
O corpo febril flutua
Sublime como a garça sobre a lagoa
Voando alto entre as tuas sobrancelhas.

Fotografia



Abre essa janela
Que o sol já quer entrar
Para fazer da vida um jardim lilás

Na fotografia desse momento
O melhor ângulo registro
Longe de tudo
Perto de mim..
.

A Voz do Silêncio


Olhando as páginas do livro aberto
Escuto o silêncio ,
O silêncio me escuta.

O silêncio traz a voz
O silêncio grita ausências...

Nas entrelinhas das palavras
Nas sombras que cada luz cria
Entre o inspirar e o expirar
o som do silêncio
a ensurdecer todo o sentir

No silêncio
O tempo deixa-se mostrar
Sem segredos, sem mistérios,
Sem disfarces...


Simples Canção



Enquanto o mundo cresce
E se desconhece
Prefiro a luz do vagalume
A clarear um pequeno jardim.

Tantas perguntas
Para poucas respostas
Talvez porque,
O exercício de perguntar
Seja mais misterioso e sedutor
Do que o de responder.

Fui intensamente amada
Por muitas pessoas,
Isso me inspira a dizer
Que soube transformar
Minha vida em poesia,
Meus dias em versos...

Na tarde onde os lírios nascem
Somos mais, porque estamos em paz
E do alto do meu céu azul,
Ouve-se, ao longe, uma doce canção...

O Amor e o Tempo




" Na hora da sua partida,
Depois de longos anos partilhados contigo,
De repente, dei-me conta de que,
Não pude ver seus cabelos ficarem brancos,
Nem o tempo passar em seu corpo,
Simplesmente porque,
O meu amor nunca envelheceu..."


À minha querida amiga Bubi, para sempre amiga...

Miragem




O corte divide em metades,
Mas, também faz nascer dois lados inteiros.

O amor dói
Mas sacramenta
Um sentimento intenso que valeu a pena existir.

A sombra não é concreta,
Não podemos abraçá-la,
Mas reflete o que é real.

O outro que vemos,
Julgamos saber quem é,
Se mostra uma miragem
No deserto de nossas projeções.



.

Fugitivos




Seus contornos me rodeiam

Num espécie de raro torpor

Jorram palavras não ditas

Desejando a frase maldita


Em ti, com tonturas, encontro

Algo similar que temia perder

Te encontro, sem nitidez, antes da minha partida

Sem perceber...


E agora, o que fazer?

Se antes do claro amanhecer

Um amor, bêbado, nos flagrou?

Lá fora, a vida aflita devora


Cada pedaço perdido do desvario

Ofegante respiração entrecortada...

Lembranças bruscas, fragmentadas...


Uma mera coincidência de amar

No espaço, no tempo, no instante de olhar

Juntos, medo de perder

Separados, medo de encontrar...

Metáforas



Como um barco à deriva
Sem nenhum porto
Naveguei pela vida


Refletida nos rostos alheios
Minha imagem ví
Em todos que encontrava


As finas cortinas do meu quarto
Não escondem o dia, nem a noite
Porque gosto de saber
Quando estou na claridade
E quando estou na escuridão


Metáforas me atingem como um raio silencioso
Posso ver apenas a luz
Sem ouvir os estrondos que me assustam


É como brincar de dizer
No esconde-esconde de palavras.
Geralmente as pessoas sempre sabem
O que seus ouvidos
Gostam de ouvir...

Oriente


A Suavidade dança comigo
E me ensina
A ter olhos pequenos,
O olhar dos detalhes
Das minúcias

Suas flores amarelas
Despertam em mim o perfume de cada gesto afetuoso
A delicadeza da melodia que traduz o silêncio
Onde ninguém é esquecido
E morrer significa
Render-se,enfim, a música suave.

As vozes que vêm de longe
Celebram mais um dia a nascer
Onde o sol poente traz
A harmonia de doces canções

Caminho por entre as brancas pedras
De seu jardim encantado
Na ponte que me leva e eleva
Aonde almeja toda liberdade
E toda saudade se transforma
Em uma estrela no céu.

A Dança


Transpasso
E perco o passo

Esta música que vem do meu corpo
Faz-me criança outra vez

Rodopio e crio
O solo compartilhado com a alma

Nesta dança,
Por uns instantes,
Sou as nuvens,
A deslizar pelo azul

Na contradança
Sou o sol,
Dourado e cintilante
A refletir-se em meu rosto.


Essencial




Sentem mais
Os que se põem a olhar
As belezas das coisas mais simples.
E do simples,
Conseguir ver o essencial.

Sentem mais
Os incansáveis
Em busca de si mesmo.
Sofrem mais
Os que amam mais
Os que acreditam e se dedicam ao outro.

Sofrem mais
Os que acreditam
Que no amor ou na amizade
O tempo transcorre junto aos relógios.
Sabem, os que amam,
Que basta o encontro tardio
Para que o tempo recomeçe
Do ponto exato aonde foi interrompido.

Vivem mais,
Os que apreciam suas emoções,
Sem reduzí-las ou amenizá-las,
Pois a vida é intensa...
E incógnita...

A Menina e o Tempo




Lá aonde se espera a vida
Aonde as feridas são indolores
A menina aprisionada no tempo
Faz soprar, nos céus, os ventos da mudança

Enquanto as árvores não crescem
E ainda pulsa a cor da esperança
Tenha, ao toque das mãos
A maciez dos dias amanhecidos

Quando as crianças choram
Alguém as olha por detrás das nuvens
Protegendo-as das lágrimas que deixam marcas
Que são logo transformadas em chuva

E que de chuva encharca
A terra que ainda não foi plantada
Brotam, mesmo que silentes,
Nos olhos de quem ainda não cresceu
Ao viver, se desejando ou sentindo
O sol que ainda vai nascer

Feminina


Pela manhã
Desfaço as tranças do cabelo
Que os sonhos da noite teceram

De cara lavada,
Desperta de qualquer ilusão,
percorro as ruas sinuosas do meu desejo
Seja lá, onde elas já percorreram,
E onde me conduzirão...
Trazendo a realidade da vida para junto de mim.

De pés descalços
Sinto a terra ainda úmida
Que me arranca os ares de menina
Solto das mãos, então, as esperanças cegas do ontem,
Para descobrir, enfim,
Dentro de cada poro da pele,
Um tempo redescoberto.

Quebra-cabeça




Sem pressa,
Fico a juntar as peças do quebra-cabeça
Peças grandes, coloridas
Peças de luto, delicadas
Pequenos fragmentos a formarem
a imagem dedicada ao ontem.

Pedaços de um brilho singular
a representar pessoas,
situações vividas
emoções sentidas
Cada qual com sua beleza, seu feitio
Formando quadros nos seus encaixes
E uma imagem que se parece comigo
olhada, ao longe...
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