Voltas do Tempo


As tranças do meu cabelo
Estão guardadas no armário
Envolvidas em papel de seda
Juntamente com minha infância

Naquelas tardes onde as flores
Exalavam mais o seu perfume
E onde o sol teimava em não dormir
Guardo todas minhas lembranças

Chinelos nos pés
Conversas pueris
Liberdade solta
Paixões febris

Nas voltas do meu tempo
Todo tempo não mais volta
Juro, às vezes, que ele ainda não passou
Por mais que o tenha vigiado
Criança que não soube crescer
Com seus doces mistérios, fez o relógio derreter

Retrato em Preto e Branco


A uma amiga poeta


Contrariando o seu curto recado
Persisto em não te abandonar
Sentada ao meio fio, junto ao sereno
A espera de tudo recomeçar

Insisto em não ter fim
Em não deixar tudo acabar
Escolho o infinito, silente
O peso, sufocante, da pata de elefante

Desejando mais que uma noite
Quero, de volta, uma manhã a me abraçar
Depois das curvas tênues do rosto
Onde as lágrimas, cansadas, se deixam secar

Ainda seguro o retrato em preto e branco
E vejo o colorido vivo das roupas que vesti
Minha memória, desbotada, mas fiel, não me trai
Vejo todos intactos, ainda, sorrindo, alí...

Alma Cigana


Próximo da grande fogueira
Baila um vulto de mulher
Desfazendo-se das misérias do cotidiano
Na neblina densa de todo mistério
Seduzida pela breve liberdade
De uma alquimia de rara beleza...
Transformando poeira em poesia!...

Pés descalços sobre a terra
Prontos para a próxima partida...
Escolhas temidas e tristes abandonos
Se escondem no rápido movimento de seu corpo.

Sob o olhar da lua em chamas
Todo ritual a fecunda
E os quatro elementos da natureza se fundem
Numa realidade própria
De uma alma cigana.

Faíscas


Pela imensidão azul

A que me proponho

Só uma certeza é constante

Meus muitos brilhos

Pela vida diária ofuscados

Deixam faíscas de rastro

Para que eu mesma

Num adiantado dia

Venha com fome a procurá-los.

De olhos Fechados


Sou muito mais do que o antes e o depois
Perto estou, quando ao longe me encontro
Aborreço e esqueço
Nos intervalos do meu ser


Não desespero; espero
Nos compassos da razão
Repito, erro e crio
Nas cirandas do meu coração


Procuro, quando já encontrei
Sinto e desminto
Mentiras verdadeiras


Sou inteira
Porque me deixo dividir
Amanheço
Pois que me permito anoitecer
Vejo melhor
Quando meus olhos,
Amanhecidos de encantos
Se fecham.

Enquanto


Doce encanto

Serei portanto

Quando tu me olhares

E enfim me notares

Me verás na tela em branco

Me verás em todos os cantos

Com sorrisos e com prantos

Serei sua, até e enquanto

Nosso amor for sagaz e tanto

E Depois ... Quando?

Nem eu...Nem tu...

Nada saberemos...

Do desencanto.

Poesia com os braços abertos


Ser livre, mera ilusão
Até a liberdade em excesso
Pode se tornar prisão
Livre mesmo é o pássaro
Que de tão incerto destino
Abre suas asas
Engole o ar...
E se deixa abraçar pelo vento!

Primavera



É chegada a hora
Onde a poda se faz necessária
De galhos que ontem floresceram
E Hoje, maduros, se deixarem morrer...

É chegado o tempo
Da pequenina semente germinada
Em épocas passadas, solta e abandonada
Romper a terra, aflita, em busca do sol...

De mãos, outrora, contidas e atadas
Em busca de saciar a fome
Prepararem, seguras, a próxima refeição...

Pois que, a primavera já nos surpreende
Com um corte silente e profundo
Em cada esperançoso coração.

À procura de novos sonhos,
Aproxima-se a furiosa correnteza
Que lava todas as angústias enternecidas
E faz nascer uma flor em cada dedo da mão.

Você



Existem pessoas
Que de tanto amadas
Ficam tatuadas em nosso peito


Existem saudades
Que de tantas vontades
Ficam, para sempre, derramadas em nosso leito


Existem sentimentos
Que de tanto vividos e absorvidos
Ficam gravados em nossa pele


Existe Você
Que de tão linda presença
Emoldura a minha história


E bem antes do amanhecer
Sua sombra, como um sol
De tão iluminada
Já me aquece.

Gradiva


E naquele andar suave
Estavam suas doces lembranças
De seu amor pueril
Numa remota criança

E sob aquele infinito olhar
Dias frios e findos
Ao lado de alguém
Deixados na distância

Perdidos na memória
De quem um dia soube amar
Sem saber...
Existentes nos inquietantes
Momentos de prazer

Para além do tempo
Um amor transportado
Muito além de Pompéia
Num encontro marcado

Para além de um abraço
Sentimentos guardados
E sob seus pés descalços
Um amor no passado
Entre as cinzas de sua memória
Seus destinos entrelaçados.

Decidida


Mesmo sem ter aonde ir

Ela partiu

Mesmo sem ter o que vestir

Se despiu de velhos preconceitos

Mesmo sem ter o que procurar

Saiu, decidida, e em busca

Mesmo sem entender de notas musicais

Compôs e dançou sua linda e doce canção

Decidiu não mais parar

E se pôs a andar, e andar

Pois que, quem nunca se perde

Jamais se encontra.

Intuição


Os olhos muitas vezes
Não conseguem ver
Qual lado é o certo
Quem tem a razão.


Mas quem se aprofunda
Em seus anseios e angústias
Consegue sentir e perceber
O enlace da intuição.


Tal qual uma bússola
Orienta, norteia e guia
Colocando potentes faróis
Iluminando a densa escuridão.


Cada qual tem o seu jeito
De descobrir o caminho
Para mais rápido chegar
Ao ápice dessa exploração.


Quem consegue láchegar
Descobre um grande tesouro
Com brilho e valor incalculáveis
E que ninguém , nunca, consegue roubar.

Luz e Sombra


Na claridade vejo meus poros
Na sombra, minhas ilusões
Figura e fundo...
Casca e Miolo...

Na luz vejo meus olhos
No escuro, meus fantasmas
Sem me distorcer em vultos
Enxergo melhor em luzes apagadas

Na solidão, o espelho é visível
Repentina, toda claridade me cega
O ouro em pó se derramou
Percorrendo os vãos da escada
Quem sobe, sem medos,
Enfrentando seu próprio breu
Reluz, cintilante, adentro madrugada.

Madura Idade


Depois da poda
Encontro minha força
Falo com o corpo inteiro
Porque falo mais do que palavras


Desisto e insisto
Pois que, a vida me espera
Profundidades me agradam
Superfícieis, estas, já me são ralas!...


Nasci, de nada sabia
Cresci, desejando conquistar
Aprendi com as águas a ser flexível
Com as pedras, a ser firme


Tampouco me importam as aparências
Como fumaça, sobe e some

Prefiro a terra, úmida, palpável
Que com segurança, vejo ao longe
E onde, madura, posso pisar!

Em Algum Lugar


Vinda de um outro lugar
Por suaves brisas trazida
Perdida em seus sonhos aqui chegou
Em sua bagagem, apenas sua essência
Em terras estranhas entrou


Incômoda sensação de não pertencer
No coração e na alma
Uma teia de vida à tecer
Num emaranhado de francas emoções.


Do seu passado, nada a saber
No presente, pés descalços a caminhar
Futuro, apenas incertezas é o que há
Sua mão sobre o peito, sente...
Sua vida a pulsar.

Sob a Minha Pele


Sob a minha pele
Existe um poeta que grita
Rancores adormecidos
Saudades abrandadas
Suores de um velho tempo

Sob a minha pele
A tua face nua se espelha
No olhar cálido que se eterniza
Sua brandura, sua singeleza

Sob a minha pele
Há desvios, e vidas já vividas
Que transpassam e respiram
Sentimentos amanhecidos
Amores há tantos findos
Afetos coligidos

E uma sombra de luz se forma, em memória
Sob a minha pele, ainda que sem voz, grita
A linguagem da sensível diferença
De quem com os dedos trêmulos toca.

Em Seus Olhos


Em seus olhos encontro
Um caleidoscópio
Que em movimentos silentes e cíclicos
Me fazem tontear

Um labirinto para mim
Em curvas constantes fazem
O sentido perder
Sentir sem querer
A hora de sair

E nessa correnteza
Me deixo levar
A levitar, de braços abertos
Destinos incertos
Sentimentos secretos
Em caminhos desertos


Como são calmas e límpidas as tuas águas!...

Amor Per - Feito


Percorri um dia os campos de amor-perfeito
Doce encanto aquele
Sentir o cheiro da paixão


Com a luz batendo em meus olhos
Cega fiquei pelo exato momento daquela ilusão


Soube um dia de uma tal flor sem pétala
Correndo fui eu encontrar
Im- per - feita visão


Com a luz batendo em seus olhos
Pude ver a beleza inebriante da mentira
Mas, mesmo assim, me apaixonei...
Pela cor exata da tua sinceridade.

No Contar dos Dias


Recolho, às vezes, minhas cores
Deixando o sóbrio branco reinar
No contar dos dias
Ainda que exista o improvável
Por entre as horas
De quem já se cansou de esperar

Na sombra misteriosa dos dias
A primavera com seu feitiço prima
Solto um grito entalado na garganta
Ao ver que ainda existem
Pássaros absurdamente livres

Colho, então, minhas tempestades
Para que delas eu possa um dia fazer
Revelando meus segredos a alguém
Um caminho rendado de flores
Onde possa chegar além

No Meio do Caminho


No espelho olho fixamente
A imagem do ontem
Tão longínqua, tão fascinante
Tão mais jovem do que eu
Correndo ligeira
Inalcançável...

No espelho olho fixamente
A imagem do amanhã
Tão longínqua, tão distante
Tão mais sábia do que eu
Se esconde por entre a lembranças
Correndo ligeira
Inatíngível...

Enquanto isto
No meio do caminho
Um eu do agora me espera
Olhando fixamente em meus olhos
Dentre tantas imagens no espelho
Tentando se encontrar mais uma vez
Incorrigível...


Poesia escrita sob a luz dos 40 anos

Vida


Lá está ela, a vida
Indócil vela acesa
Fugaz, inquieta
Frágil chama enrubrecida
Violenta luz aquecida

Lenta e volupiosa como uma dança
De mãos dadas, o doce encontro
Plena Sedução no olhar
Com quem perto dela chega

Um vento mais forte
Desorienta a pequena bússola
Sem sul, e sem norte
E a pequenina chama
Num gesto de despedida
Corre em busca de outra sorte
E sem pedir licença, se apaga...

Em cada olhar, o infinito


Fico Consciente da sua bela imagem
Quando vejo o sol despontando no horizonte
Como contas de cristais a me cegar
E a luz que entra por esta janela
Faz toda minha coragem despertar


Mergulhado em pequenas porções
O sentimento nosso, de cada dia
De cada olhar, o mais bonito
De todo o amor, o mais polido


E o tempo que me transpassa
Alcança com suas mãos trêmulas
Em cada pequeno gesto, o infinito.

Varais de Lembranças


Pendurei minhas lembranças no varal
Resolvi que delas nada mais posso tirar
Delas ninguém, sequer, saberá
Se as retiro, sem querer, ainda úmidas
Em nenhum armário posso guardar

Por isto, deixo o sol encandecente
A envolver em seus longos braços
Secando todas as mágoas e mazelas
Como folhas secas, e em estilhaços

Frescas e muito mais leves
Se tornam as lembranças
Que ao sol, adormecidas, secaram
Onde os ventos se debruçaram
Perfumando sua pele já enrugada

Seu destino, então, já previsto
Se põe em passos largos
Ir de encontro, procurando um lugar
Onde possam, enfim, descansar
Junto a outros sentimentos guardados.




Delicata



Contesto até o fim, entusiasmada
Um dia de sol pelo menos
Em uma semana nublada

Diante das calçadas nuas a correr
Pernas trêmulas a percorrer
O mesmo caminho que um dia já fiz

Se vejo um botão de rosa a sorrir
Me ilumino toda ao descobrir
Que também eu posso desabrochar

Sortes me esperam na vanguarda
Um anel de pedra azul na mão
E um amor de suspiros no portão






Cálice


Vinho em Cálice

Névoa espalha-se

Corte no silêncio

Ar suspenso

Embriaga-se...

Ciranda dos Ventos


A vida de tão incoerente dói,
De tanto estremecer, destrói
De tanto persistir, corrói

Contínua dança em ciranda
Dos tempos idos e vindos
Do tamanho do instante vivido


A vida vem com o vento
Brisas ou tempestades
E no seu incansável girar
Suporta em seus largos braços,
O presente e o futuro
De quem verdadeiramente ousar viver!

Frágil


Um leve sopro me faz flutuar
No cheiro ácido do limão
Terra batida no canto do pássaro
Que depois da chuva, estufa de alegria

Junto ao tronco rosado do ipê
O vento leva folhas salpicantes
Contato este que traz desassossego


Me pareço, tem vêzes, como uma avenca
Frágil, indócil, no meio do campo em desalinho
Ou então, tal como filhote indefeso
a esperar ansioso comida no ninho.

Clara Idade



No varal, ao sol , vejo penduradas
As roupas que ontem usei
Correndo atrás de um tempo fugitivo
Por toda uma vida
Cortejo, apaixonadamente, a poesia que desperdicei

Disformes, vejo as asas da gaivota que pintei
São pequenas, mas seu vôo é libertador
No sutil e leve espaço de ser
Minhas tristezas duram apenas uma noite
Amanheço, todo sempre, com uma esperança lilás

Diluída em água corrente
Atravesso as paredes do intenso vazio
Colorindo com lápis de cor
Desenhos de um teimoso destino
Feito e refeito em suaves curvas.

Doce


Ao meu filho Davi



A doce música vinda do seu quarto
Transporta-me para um tempo em que sonhei
Via nas nuvens tatuado
Um rosto como o seu, a me olhar


O suave perfume que vem do seu quarto
Toca profundamente em meus anseios
Movimento lento, silente
Intacto e emoldurado
Do eterno instante em que te vi


Amor e sonhos convergidos
Impasse que o destino leu
No calor que sempre emana
Do ventre que te protegeu.


Nas paredes brancas
Sou a protagonista
Do sonho que ontem ousei ter
Passado e presente transpassados
De mãos dadas, vida a fora
Escritos num filho que me faz crescer.

Às Oito


O Dia nasce cinza
Em volta casas, árvores e o tempo
Em torno da lâmpada, meu eterno começo
O vento imóvel se cala

Em oito anos de solidão
Sobram oito meses de pura paixão
Faltam, sempre, oito minutos para ser feliz
Em oito décadas de vida, desejo
Que meus braços contornem o mundo

Signos na pele
Tatuam as oito sensações
Às oito te encontro, nas constelações
Em infinitos instantes para se perder.

Toque de Lavanda




Longe, bem longe da infância
Há um lugar onde caminhos nos seduzem
Bem perto de uma certa sabedoria
Onde só chega quem consegue sentir

No porto onde se prediz o futuro
Juntos todos os encontros são felizes
Na sempre condição de ser única
Centrada no meio da multidão

Como um pétala solta da flor
Voando por terras nunca vistas
Numa ânsia de ir cada vez mais longe
Deixando rastros no caminho de volta

E no ar
Um suave perfume de lavanda
Indo além onde meus olhos não conseguem ver
Nesse tom lilás
Onde me deixo transcender

Despedida



Jamais em suas terras entrei
Sem que antes me desses permissão
Bebendo da mesma bebida
Tontos, juntos, ficamos
Como despedir-me
Sem nada de ti levar?

Podes até me devolver os presentes que te dei...
Mas como abandonar o sonho que nos guiou?
Se nos vejo juntos movendo os dedos para alcançar o sol;
Dançando enlouquecidos para alcançar o céu...

Depois de um ontem entorpecido
Levanto só para um novo dia
Com sua companhia etérea
Presente em meu campo de violetas

Choro sua partida, porém,
Como despedir-me ?
Se nada de ti, em mim, foi embora?

A Borboleta Azul


Certa vez , me disseram, que eu tinha muita imaginação. Na época levei isto como uma crítica não construtiva, mas agora olhando bem, posso admitir que esta é a minha melhor faceta.

Imaginar nos leva longe demais, tão longe que acabamos por descobrir terras ainda não habitadas. A imaginação me trouxe até aqui...

Certo dia uma linda borboleta azul pousou no meu ombro. Fiquei pasma com tamanha audácia, mas deixei-a ali, aproveitando-me de sua rara companhia.De súbito, saiu a bater suas frágeis asas. O seu azul foi um convite a lhe acompanhar, e a segui pelo caminho que iria dar num abismo.

Olhei para baixo e a altura me fez tontear...

Mas a borboleta azul não se intimidou e seguiu com o seu voar por aquela imensidão!

Com a coragem e alegria de viver que nos invade de vez em quando, me lancei de braços abertos tal qual aquela borboleta!

Ah! Que surpresa a minha!

Descobrí naquele impulso, que se lançar num espaço vazio, era como usar a imaginação e eu também podia voar !

Voar como uma borboleta azul!

Contratempo


Condensado em uma nuvem
Todo desejo imóvel alí espreitava
Inchou-a tanto, por tanto tempo que a explodiu!...

Dela caíram milhares de pingos dourados
Encharcando a árida terra.
Brotaram então, tímidas sementes de trigo
E um intempestuoso amor por você!

E apesar do tempo
Contra o tempo,
Contra o vento,
Contra tudo
Lindos tempos vieram...

Fugitivos


Seus contornos me rodeiam
Num espécie de raro torpor
Jorram palavras não ditas
Desejando a frase quase maldita

Em ti, com tonturas, encontro
Algo similar que temia perder
Te encontro, sem nitidez, antes da minha partida
Sem perceber...

E agora, o que fazer?
Se antes do claro amanhecer
Um amor, bêbado, nos flagrou?

Lá fora, a vida aflita devora
Cada pedaço perdido do desvario
Ofegante respiração entrecortada...
Lembranças, bruscas, fragmentadas...

Uma mera coincidência de amar
No espaço, num instante de olhar
Juntos, medo de perder...
Separados, medo de encontrar...

Sumo



Desde que me descobri em seu olhar,

Conduzi o tempo a um novo ritmo,

Desviei o riacho a um novo rumo,

De todas as flores tirei o sumo,

Em minha solidão refiz o prumo.

Flôr do Tempo


Da sementeira
Aonde plantei o amanhã,
Caíram, feito galhos, nossos olhares,
Num adeus que nunca se concretizou.

Entre os eucaliptos
Por onde eu caminhava de volta para casa,
Nasceram duas flores amarelas,
Simbolizando que um dia estivemos ali.

Às margens de um rio que se faz sempre verde,
Uma estória se findou, sem nem mesmo ter começado.
Três Corações reunidos, para sempre, em um coração somente.
Apenas as impossibilidades são eternas...

Gôsto de Mel


Há de ouvir
O incessável cantos de pássaros
Que nunca voam sobre o mesmo campo
Eternizados no céu,
Como em um quadro de molduras douradas.

Há de ver
Por todo caminho,
Pétalas marfins espalhadas
Onde, por todas a manhãs, com fascínio, caminho.

Pela fresca estação, todo o encanto fulgaz me seduz
No dia, há cores, que pintam, sem cerimônia, minha tez
Na noite, só os sonhos, com gôsto de mel, posso ter.

Ametista




Defino tal qual ourives
O lado, de todos, mais lapidado
Tonta, girando em seus ápices
Liso, multifacetado
Feita da pedra bruta
Cortes na gema lilás
Livre com polidez
Nas espirais de fumaça alecrim
Revivência na pura solidez
Na ametista que existe em mim

Paixão


Ao vento, meu corpo suspendo
Intuito que eternize o momento
Volúpia, densa sensação
Esta, que aflige, a de uma paixão

Atravessa o peito em segundos
Horas parecem segundos
Surreais, dias parecem sonhos
Sonhos parecem reais

Adolescendo como uma onda
Respiro o ar doce novamente
De viver plena e intensamente

Sóbrios, porém ébrios com ardor
Encontro-te fulgás do teu próprio medo
De ver que a paixão um dia se torna amor

Em Busca de Si mesmo


Se um certo "nada" é crescente
Dentro do seu íntimo, dentro do seu ser
Um "nada" que angustia, parte e oprime
Pode ser aí o seu ponto de partida.

O início de uma longa jornada
Onde só você é o peregrino
Pés descalços, sem artifícios
Andar em busca do próprio destino.

Lá, bem longe, ou aqui, bem dentro
Pode estar à espera, colorindo
Uma pérola perdida num labirinto
Onde só você pode encontrar.

Cada qual tem seu jeito, seu caminho
Nas entranhas a existir
Mergulhe, solte-se, fale!
De algumas coisas desista;
De outras insista!

Mortes e nascimentos o esperam
No caminho estreito, só de um,
Tornando-se sujeito de si mesmo
Livre flutue então,
E a pérola colorida, sua será.
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